Um clássico marcado pela tensão. Foi assim que começou e terminou mais
um Vasco x Flamengo. O pênalti cobrado por Ronaldinho aos 47 minutos do
segundo tempo deu a vitória aos rubro-negros por 2 a 1 na noite deste
sábado e uma pequena pausa na pressão sobre o time e o jogador, apesar
de mais uma atuação nada empolgante do camisa 10. O resultado
classificou o clube para as semifinais da Taça Rio. E acabou sendo a
gota d'água para um tumulto que envolveu os jogadores do Vasco.
Principalmente Eduardo Costa e Rodolfo, que partiram para cima do
árbitro Wagner dos Santos Rosa, e só não o agrediram porque foram
contidos pelos policiais.
O presidente do clube, Roberto Dinamite, entrou em campo e reclamou da
atuação do juiz. Principalmente do lance aos 29 minutos da segunda
etapa, quando Thiago Feltri, em dividida com Wellington, caiu na área.
Mas o árbitro mandou seguir o lance.
- Fomos roubados e não podemos vetar o árbitro - afirmou o dirigente.
Com um público de 14.152 presentes e 10.461 pagantes, que
proporcionaram renda de R$ 302.745,00 no Engenhão, a partida, com um
Vasco misto e um Flamengo completo, foi mais de transpiração do que
inspiração. Ironizado pela torcida do Vasco, Deivid, no primeiro tempo,
abriu o placar para o Flamengo. Diego Souza empatou a partida, e
Ronaldinho, no outro lance polêmico, mas corretamente marcado pelo
árbitro, decretou a vitória rubro-negra. Na saída de campo, o camisa 10
do Fla deixou no ar, num depoimento pouco claro, uma possível despedida.
- Quero sair daqui pela porta da frente - disse R10, na confusa saída do campo.
O resultado deixou o Flamengo na liderança do Grupo A na Taça Rio, com
18 pontos, e com uma das duas vagas asseguradas. O time não pode mais
ser alcançado pelo Macaé, com 12 e só podendo chegar a 15, e o Resende,
que ainda pode chegar a 18, mas perderia pelo número de vitórias no
critério de desempate. Apenas o Botafogo pode ultrapassar os
rubro-negros. De quebra, o Rubro-Negro passa o Vasco no cômputo geral da
tabela - tem 33 pontos contra 32 do rival.
Ronaldinho só aparece nos minutos finais para decidir (Foto: Marcos de Paula / Ag. Estado)
Com o resultado, o Vasco perdeu a liderança do Grupo B. O Bangu, que
venceu o Macaé, é o primeiro colocado, com 12 pontos. Os cruz-maltinos
ficaram em segundo, com 11, mas Fluminense, com 10, Duque de Caxias, com
8, e Volta Redonda, com 7 e um jogo a menos, ainda têm chances de
brigar pela vaga.
Na próxima quinta-feira, a pressão voltará a mudar de lado. Enquanto o
Vasco, já classificado para as oitavas de final da Libertadores, joga
apenas pelo primeiro lugar do grupo, contra o eliminado Nacional, no
Uruguai, às 21h50, o Flamengo terá no Engenhão, às 19h30, a difícil
missão de vencer o Lanús e torcer por empate de Olimpia e Emelec, no
Defensores del Chaco, em Assunção, para também conseguir avançar à
próxima fase. Na última rodada da Taça Rio, domingo, o Flamengo receberá
o Americano no Engenhão, às 16h. No mesmo horário, os cruz-maltinos
encaram o Nova Iguaçu, em Moça Bonita.
Atraso na entrada
Com um inexplicável atraso para a entrada em campo - a equipe pisou no
gramado aos gritos da torcida do Vasco de "eliminado" no momento em que a
partida deveria começar -, o Flamengo apresentava Kleberson no lugar de
Muralha. A intenção do técnico Joel Santana era ter jogadores mais
experientes para lidar com a pressão e poupar mais os garotos. O
veterano campeão mundial em 2002 até deu mais qualidade ao toque de bola
no começo, mas a ausência do volante de 18 anos fez o time sofrer
novamente com as péssimas saídas de bola de Willians, sempre mal no
quesito passe. Tudo isso, além da apatia do Vasco, contribuiu para um
primeiro tempo nada empolgante das duas equipes.
Pelo lado do Flamengo, na frente, Ronaldinho, aberto pela esquerda,
repetia a tão já criticada omissão de um jogador com alto salário e a
responsabilidade de ser o homem decisivo. Era Bottinelli quem mais
aparecia na tentativa de armar jogadas para deixar Deivid e Vagner Love
na cara do gol. A primeira chance, no entanto, começou com jogada pela
esquerda de R10 para Junior Cesar. O lateral foi à linha de fundo e
conseguiu acertar o cruzamento para Deivid. O camisa 9 nem cabeceou bem,
mas a bola quicou e quase enganou Prass. O goleiro mandou para
escanteio.
O Vasco entrou em campo com um desfalque considerável. O meia Felipe
sentiu dores no ombro direito e foi cortado da concentração na noite de
sexta-feira. Em seu lugar, o técnico Cristóvão optou por Eduardo Costa.
Ainda sem Dedé, machucado, com edema na perna esquerda, Juninho, em
recuperação de problema dentário, e Diego Souza, poupado no banco, o
Vasco perdia em experiência e criatividade. Com três atacantes, tinha
como jogada principal a explorar, para a conclusão de Alecsandro, a
velocidade de William Barbio e Eder Luis.
E o camisa 7 levou perigo quando aplicou caneta em Willians, arrancou
do meio de campo para dar o drible da vaca em Wellington, voltou a
driblar o camisa 8 rubro-negro mais à frente e centrou. Léo Moura
atrapalhou as pretensões de achar o atacante cruz-maltino, ao cortar de
cabeça.
Gol de Deivid
Com os dois times errando muitos passes, a partida seguia num ritmo
sonolento. Mas, aos 16 minutos, Willians conseguiu acertar uma jogada,
no ataque. Tocou na meia-lua para Vagner Love. O atacante girou aos
empurrões com Rodolfo e bateu já caído. Fernando Prass deu o rebote para
Deivid tentar esquecer o gol perdido no último confronto com o rival,
que entrou para o rol dos maiores do Inacreditável Futebol Clube. Dessa
vez, ao contrário da partida anterior entre os clubes, vencida pelo
Vasco por 2 a 1 na semifinal da Taça Guanabara, o camisa 9 tocou sem
erro para o fundo da rede e foi comemorar com a torcida e os jogadores.
O gol esteve longe de deixar o Flamengo soberano na partida. Daí em
diante, o time, tenso, caiu de rendimento. Ronaldinho mantinha o hábito
de se livrar logo da bola, e Willians errava passes capitais na saída de
jogo.
Mas o Vasco pouco se aproveitava dos erros do Flamengo. Com Fágner e
Thiago Feltri apoiando pouco e William Barbio se jogando em quase todos
os lances, sobravam Eder Luis e Felipe Bastos para criar algum lance de
perigo. Foram justamente os dois os responsáveis pelos melhores momentos
da equipe na partida.
Felipe Bastos arriscou bomba de fora da área. A bola foi à esquerda de
Felipe. Destaque do time na primeira etapa, Eder Luis por pouco não
empatou a partida, ao receber livre no meio e bater, de perna direita,
rasteiro, rente à trave. O Vasco saía para o intervalo em desvantagem,
mas dava a impressão de que o empate era questão de tempo.
Reação vascaína
Acertadamente, Cristóvão trocou o apagado Barbio por Diego Souza. Eder
Luis teria com quem se entender melhor. O Flamengo mantinha Wlillians
errando passes e um time confuso. Bom para o Vasco. Aos 4 minutos, Love
ficou na indecisão de ir na bola no meio-campo. O Vasco engatou um
contra-ataque até Alecsandro concluir. A bola subiu e encobriu
Wellinton, que olhou passivamente Diego Souza, nas suas costas, entrar
em velocidade e tocar sem defesa para Felipe. Era o gol de empate.
Diego Souza entrou bem na partida. E, logo depois de empatá-la, fez um
tremendo carnaval pelo lado esquerdo, deixando claro que a defesa
rubro-negra estava insegura. Após uma sucessão de passes errados,
Willians acabou sacado. Joel optou por Rômulo, há muito tempo sem jogar.
O Vasco já tinha Fágner melhor no apoio. O Flamengo, com Léo Moura
contido no lado direito e Junior César sempre fraco no apoio, procurava
reagir. Numa falta sobre Love na meia-lua, Ronaldinho, ainda apático,
cobrou no travessão e, sem que ninguém percebesse, cometeu
irregularidade no lance, ao pegar o rebote no lado esquerdo sem que
nenhum jogador tivesse tocado na bola.
Era um momento em que o Vasco estava melhor. E Felipe Bastos poderia
ter saído consagrado se mandasse para o fundo das redes o belo chute com
efeito de fora da área que fez o goleiro Felipe rezar para não sofrer o
gol. Pouco depois, foi substituído por Allan. Do lado do Fla,
Bottinelli deu lugar a Luiz Antônio. Os erros na defesa e no meio-campo
rubro-negros continuavam. Aos 29 minutos, o Vasco reclamou de pênalti de
Wellinton em Thiago Feltri, em lance polêmico. No contra-ataque, Deivid
devolveu presente dado por Fernando Prass e desperdiçou boa chance.
Logo depois, Joel o trocou por Diego Maurício. O camisa 9 saiu
aplaudido, ironicamente, pela torcida vascaína.
Os dois times se alternavam nas chances de ataque, e jogo parecia ainda
não estar decidido. Aos 40 minutos, Allan deu lambreta sensacional e
bateu cruzado para grande defesa de Felipe. No contra-ataque,
Ronaldinho, em sua melhor jogada, serviu Léo Moura para decidir. O
jogador bateu cruzado para fora. Aos 46, o lateral, outro a aparecer bem
no fim, foi derrubado na área por Fernando Prass. Pênalti que
Ronaldinho não desperdiçou, deslocando o goleiro.
Com o apito final, Eduardo Costa e Rodolfo partiram para cima do
árbitro, e o tumulto foi formado. A tensão mudou de lado. Mas,
quinta-feira, na Libertadores, volta a ficar rubro-negra.